Técnica da Unirio analisa metabolismo no treino e indica como melhorar performance

Análise do sangue determina se alimentação, hidratação e treinamento estão corretos e se há indícios de inflamação

A relação entre a produção de energia e o consumo de calorias é o que determina o quão azeitada está a “máquina” corporal, e definir como atingir este equilíbrio em um mecanismo tão complexo como o corpo humano é um dos maiores desafios da ciência. Seja para um atleta de elite ou para um amador, a palavra do momento é personalização. É ela quem move a esportômica, técnica criada por Luis Claudio Cameron, chefe do Laboratório de Bioquímica de Proteínas da Unirio (LBP). A partir de análises sanguíneas, ele consegue determinar se um atleta está se alimentando ou se hidratando corretamente, se está entrando em um processo de overtraining (excesso de exercícios) ou até se há indícios de inflamação. - Estudamos o perfil metabólico de atletas de alto rendimento em seu ambiente de treino a partir de análises de cerca de 500 marcadores, tais como aminoácidos, ácidos graxos, sinalizadores peptídeos, proteínas, hormônios e enzimas musculares - explica Cameron. - Eles podem indicar intervenções para treinamento, alimentação, repouso e recuperação.   Em 2009, Cameron foi convidado a prestar consultoria para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Desde então, já ajudou mais de 100 atletas a melhorar sua performance. Foi o caso de Yane Marques. Praticante de uma das modalidades mais multifacetadas dos jogos, o pentatlo moderno (equitação, natação, esgrima, corrida e tiro), Yane já estava há sete anos entre as dez melhores do ranking mundial quando começou o trabalho com o LBP. Três anos depois, 2,8 segundos a menos na prova de 200m da natação fizeram dela a primeira campeã olímpica brasileira na modalidade. - Com a abordagem da esportômica conseguimos reduzir o treino de natação da Yane e fizemos com que ela baixasse seu tempo - conta Alexandre França, técnico da atleta. - Esse não é o pensamento normal, e só soubemos como agir depois dos testes. Eu não tenho dúvidas de que parte da medalha dela é do laboratório. A pequisa brasileira foi premiada pelo American Society for Cell Biology no ano passado, e é a aposta do COB para 2016. A entidade planeja encaminhar mais 80 atletas a partir de janeiro de 2014 ao LBP. Serão dois anos de trabalho para tentar mudar o papel do Brasil nos primeiros jogos disputados em casa. Em Londres, o país ficou em 22º no quadro final de medalhas. - Com a análise do sangue reduzimos até mesmo a quantidade de suplementos alimentares que um atleta toma - ressalta Jorge Bichara, gerente-geral de Performance Esportiva do COB. - Além de ser mais saudável, evita casos de doping por contaminação do suplemento. Dos atletas para a população Atletas de judô, atletismo, boxe, canoagem, vôlei de praia, ginástica artística masculina, saltos ornamentais e a seleção feminina de futebol também já passaram pelo laboratório. Emanuel Rego, jogador de vôlei, é um dos casos mais bem-sucedidos da parceria. - Os atletas precisam de orientação personalizada. O Emanuel está com 40 anos e tem metabolismo de 20 - avalia Paulo Figueiredo, fisiologista da Confederação Brasileira de Vôlei. - A bioquímica pode até mesmo prolongar a vida útil de um esportista. Atualmente, 99% do trabalho do LBP é com atletas de ponta, mas Cameron aposta em um projeto para levar o conhecimento de forma gratuita também para os amadores, utilizando seu caminhão laboratório, testado na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano. Para atletas de nível intermediário de exercício, a análise pode diminuir o risco de lesão muscular e articular. A genética é outra variante da capacidade atlética. O Painel Genômico de nutrição e resposta ao exercício, realizado no Rio pelos laboratórios Sérgio Franco e Richet, aponta características que o indivíduo traz do nascimento e que podem influenciar sua resposta a dietas e exercícios físicos. - Atividades físicas que fazem bem para alguns podem prejudicar outros - explica Rafael Munerato, Cardiologista e Clínico Geral do laboratório Sérgio Franco. - Podemos determinar que uma pessoa tem mais riscos de desenvolver uma lesão no tendão, por exemplo. O teste custa entre R$ 1.298 e R$ 1.800, é feito a partir da saliva e deve ser pedido por um médico após verificar problemas como dificuldade para produzir vitamina D ou baixar o nível de colesterol LDL, entre outros. Ele ainda não é unanimidade entre os especialistas. - Qual a vantagem de saber que você geneticamente tem problema se você já desconfia disso? - questiona Daniel Arkader Kopiler, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Munerato afirma que o painel oferece orientação. Segundo ele, pesquisas indicam que as pessoas que fazem o teste genético seguem melhor recomendações médicas.  FONTE: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/tecnica-da-unirio-analisa-metabolismo-no-treino-indica-como-melhorar-performance-10927739